6º Colóquio Internacional Filosofia e Ficção
Utopia, acronias e anarqueologias
De 6 a 9 de abril de 2013
Brasília/DF
Comissão Organizadora
Carla Milani Damião (UFG)
Hilan Bensusan (UNB)
Miguel Gally (UNB)
Luciana Ferreira (UNB)
Leonel Antunes (UNB)
Loraine Oliveira (UNB)
Eclair Antônio Almeida Filho (UNB)
Monica Udler Cromberg (USP)
Wagner de Campos Sanz (UFG)

Apresentação

O VI Colóquio de Filosofia e Ficção tem por foco de atenção a relação entre o tempo, o espaço e a ficção. O tema gira em torno do futuro como ficção, do passado como invenção e da imaginação de outros tempos. Assim, ele se aproxima do pensamento da acronia – aquele que subtrai dos acontecimentos confabulados e relatados qualquer indexação temporal – bem como o da utopia como criação de um espaço como contraponto a um tempo político presente (Damião, 2008). O reverso da utopia é a distopia como um mau-lugar que se projeta no tempo e ambos são gêneros forjados na discussões filosóficas. A filosofia, em sua atividade de crítica do tempo presente, desdobra-se em uma narrativa de lugares imaginados, assim como de tempos inexistentes. A utopia – inicialmente não pensada como um projeto implementável – deu origem a diferentes esforços de planejamento, dentre os quais a arquitetura moderna, por exemplo, a de Brasília. Finalmente, a noção de anarqueologia consiste na tentativa de explorar a ideia da invenção das origens (cf. Bensusan, Antunes & Ferreira 2012). Trata-se de um embaralhamento, com fins filosóficos, de fatos e versões que aproveita os modos como a filosofia se banha em suas histórias. Aqui considera-se os modos como o tempo presente influencia seu passado.

O tempo testemunha a natureza comum entre pensamento e ficção. O pensamento do passado é refém da precariedade das memórias – da soberania dos vestígios. Daí saem os fatos prontos e as ficções – e entre elas, as versões. As anarqueologias são formas de ficção que se recusam a tomar os vestígios do passado no pensamento como estando à serviço de uma monofonia, de uma história única a ser depurada no meio das muitas vozes sobre o que teria passado. Se o pensamento se abriga nas histórias – mais pensamentos se abrigam em mais histórias. O direito de não se submeter a nenhum passado oficial, permite ao pensamento um compromisso com a ambiguidade dos seus vestígios – e não com a unicidade do relato pronto.

A ficção nasce do futuro aberto: não ocorreu no passado (ao que se saiba) e nem tampouco é presente, mas pode ainda ocorrer. O futuro é um ponto de convergência cotidiano entre a filosofia e a ficção. Ambas estão repletas da história dos futuros, de tudo aquilo que poderia ter vindo a ser e não foi. Fantasias catastróficas ou científicas, utopias acalentadas ou temidas (distopias), assombros que pareciam evidentes ou recônditos – da Cidade de Deus que virá ao Apocalipse com datas marcadas. As utopias derivam do imaginário dos espaços desconhecidos favorecido pela conquista dos novos espaços enquanto as acronias, derivadas da abertura do futuro, são produtos tempo incognito. As acronias surgem de um mundo já cartografado onde o espaço a conquistar é o tempo futuro.

Recentemente o futuro tem recebido novos tipos de atenção. De um lado sua abertura é parte do esforço dos filósofos da chamada virada especulativa. Inspirados pela ficção de Lovecraft e Nigarestani, eles entendem o esforço de pensamento como um voo em direção ao futuro. Meillassoux, por exemplo, situa a existência de Deus em um futuro possível – a inexistência divina é uma abertura para a factualidade do que ainda pode vir já que não há nada de necessário pondo trilhas no futuro. O retrofuturismo – que se ergue do passado dos futuros – se ocupa de imaginar futuros dos passados: o futuro das heterotopias fracassadas, a distorção da história da arte (que desloca o punk para a era vitoriana e produz o steam-punk, por exemplo). Em muitos casos, o futuro aparece como um assombro, como uma ausência intensa que molda os interstícios do pensamento – o futuro é filosofia e é ficção.

A experiência de construir Brasília foi um exercício de projeção do futuro. O futuro moderno hoje tem 50 anos e uma história cheia de grandes saltos e pequenos acontecimentos. Em Brasília o passado é um futuro do passado, uma experiência desenhada em que o desenho é parte da vida urbana. A vida urbana de Brasília parece muitas vezes uma vida de laboratório, uma criação de cidade in vitro, onde os planos para o futuro se mesclam com o horizonte do planalto e com o traçado da cidade. Por isso o VI FIFI (Colóquio de Filosofia e Ficção), que trata da relação entre pensamento, tempo e imaginação, ocorre em Brasília.