Congresso Internacional 2017
Os fins da arte
De 17 a 20 de outubro de 2017
Belo Horizonte/MG
Comissão Organizadora
Cíntia Vieira da Silva (UFOP)
Debora Pazetto Ferreira (CEFET/MG)
Giorgia Cecchinato (UFMG)
Marco Antônio Alves (CAPES/UFMG)
Rachel Costa (CAPES/UFOP)
Rodrigo Duarte (UFMG)
Verlaine Freitas (UFMG)
Virginia Figueiredo (UFMG)

Apresentação

O 13º. Congresso Internacional de Estética – Brasil, intitulado “Os fins da arte” visa pôr em relevo temas recorrentes na história da estética filosófica, elaborando a ambiguidade já constante no seu título, a saber: “fins” entendidos como finalidades, o que remete à milenar discussão sobre os usos que a arte teve, tem e terá, a qual remete à ainda importante questão acerca da autonomia da arte e do regime de sua heteronomia que não apenas se impôs nos seus primórdios, mas ainda se impõe na forma de exigências mercadológicas tendentes a desfigurar o ímpeto original de importantes manifestações estéticas. Por outro lado, o enfoque sobre “os fins da arte” remete às inúmeras formulações da discussão sobre um possível término da arte, a partir da marcante página dos Cursos de estética de G.W.F. Hegel, segundo a qual “… nosso presente não é, segundo o seu estado geral, favorável à arte. Em todas essas relações a arte é‚ e permanece, segundo o aspecto de sua mais alta determinação, algo passado para nós” (Vorlesungen über die Ästhetik, Suhrkamp Verlag, p. 25).

Nos que tange à discussão sobre possíveis propósitos de objetos estéticos, pode-se dizer que ela é tão antiga quanto a própria reflexão sobre a arte, reportando-se, por exemplo, a vários diálogos de Platão, sendo suas passagens mais conhecidas aquelas de A república, nas quais o filósofo externa as suas suspeitas sobre as artes imitativas, tendo em vista o seu poder potencialmente enganador, com os seus prejuízos na formação dos cidadãos do que seria uma pólis perfeita. Subjaz a esse ponto de vista a convicção sobre os efeitos educativos da arte nas pessoas, o que sinaliza uma de suas finalidades específicas, a saber, a música – arte das musas – ao lado da ginástica como principais métodos para a educação dos cidadãos. Ainda na filosofia clássica grega, na Poética de Aristóteles, reencontra-se uma concepção de propósito da arte na ênfase dada à catarse como propiciadora de purificação do ânimo, mediante a experiência do terror e da compaixão. Ainda no final da Antiguidade, Horácio, em sua Ars Poetica, declarava que os poetas querem ser úteis ou deleitar (“Aut prodesse volunt aut delectare poetae”), chamando a atenção para os possíveis usos da arte.

Na Idade Média, em que a cultura como um todo se encontrava submetida à fé cristã, as manifestações artísticas, de um modo geral, eram concebidas como meios ad majorem Dei gloriam, tendo portanto o propósito explícito de celebrar e mesmo aumentar a glória de Deus. Mesmo em períodos já avançados, como na época de São Tomás de Aquino, a verdadeira perfeição de uma obra de arte – sua perfectio prima – residia na adequação à sua finalidade, sendo que sua beleza formal era tida como secundária – era entendida como perfectio secunda.

Foi a partir do Renascimento, com a concepção de virtuosismo artístico, que, não apenas na prática dos criadores, mas na discussão dos teóricos, começa a surgir a ideia de que as belas artes podem não estar submetidas a propósitos imediatos, tendo suas obras um tipo de valor intrínseco, não subordinado a finalidades externas. Esse ponto de vista, cujo debate se estendeu pelos séculos subsequentes, certamente atingiu um cume filosófico com as concepções do “prazer desinteressado” no juízo de gosto e da “conformidade a fins sem fim” na Critica da faculdade do juízo, de Immanuel Kant e influenciou toda a estética posterior, ao longo dos séculos XIX e XX, com repercussões até esse nosso início do século XXI, corporificadas, como já se assinalou, nas discussões contemporâneas sobre a autonomia da arte.

Algo semelhante ocorre com o outro significado contido na expressão “os fins da arte”: o prognóstico hegeliano sobre um possível fim da arte repercutiu em toda a estética, desde o início do século XX até o presente, com manifestações mais ou menos explícitas em obras de Gyorg Lukács, Martin Heidegger, Walter Benjamin, Theodor Adorno, Herbert Marcuse, Gianni Vatimo e Arthur Danto, dentre outros.

Tendo em vista a trajetória dessas duas concepções de “fim” da arte, as quais até hoje preservam sua importância nos debates contemporâneos sobre a estética, o Congresso Internacional Os fins da arte pretende abordar alguns dos seus aspectos mais pertinentes, seja em cada uma delas separadamente ou nas suas diversas interrelações possíveis.

Vale lembrar que esse congresso se soma à série de eventos organizados, desde 1993, pela Linha de Pesquisa em Estética e Filosofia da Arte, do Programa de Pós-Graduação em Filosofia da UFMG (a partir de 2009 realizados juntamente com o Mestrado em Estética e Filosofia da Arte da UFOP e com a Associação Brasileira de Estética – ABRE): “Morte da arte, hoje” (1993), “Belo, sublime e Kant” (1995), “As luzes da arte” (1997), “Katharsis” (1999), “Mímesis e expressão” (2001), “Theoria Aesthetica” (2003), “A dimensão estética” (2005), “Estéticas do deslocamento” (2007), “Deslocamentos na arte” (2009); “Imagem, imaginação, Fantasia. Vinte anos sem Vilém Flusser”, (2011) “Gosto, interpretação e crítica” (2013) e “O trágico, o sublime e a melancolia” (2015).