Belo Horizonte/MG
Giorgia Cecchinato (UFMG)
Rodrigo Duarte (UFMG)
Verlaine Freitas (UFMG)
Virginia Figueiredo (UFMG)
Apresentação
O 11o Congresso Internacional de Estética – Brasil tem em vista a discussão de três conceitos que se formaram (ou pelo menos se consolidaram) no ambiente iluminista europeu do século XVIII (e do início do XIX) – gosto, interpretação e crítica – e que, mesmo com numerosos percalços, chegaram a esse início do século XXI com potencial para a compreensão de fenômenos culturais contemporâneos e globais, mostrando que os conceitos em tela não apenas sobreviveram ao período histórico do seu aparecimento, mas também extrapolaram o âmbito geográfico em que surgiram.
No que tange ao gosto, observa-se sua gênese enquanto mesclado ao sentimento moral, tal como aparece em Shaftesfbury e Huchteson; já em sua primeira formulação essencialmente estética figura recomendado por David Hume como resultado de uma prática da sensibilidade, no sentido de se atingir certo “padrão” que superaria a potencialmente infinita diversidade de gostos. Na esteira desse esforço teórico pioneiro, porém ainda incipiente de Hume, o gosto é estabelecido por Kant como fundamento de um juízo estético desinteressado, a-conceptual, a-télico, porém universal. Talvez exatamente a postulação dessa universalidade do juízo de gosto por Kant – não menos pelo seu aspecto eminentemente polêmico – tenha sido responsável pela sobrevivência da noção de gosto nas discussões estéticas atuais. Que se recorde, por exemplo, da sua importância na Estética doméstica de Clement Greenberg ou mesmo nas discussões sobre a “indústria cultural” por Max Horkheimer e Adorno.
No que diz respeito à ideia de interpretação, poder-se-ia dizer que, a despeito de sua tradição na filosofia em geral, que remonta à Antiguidade clássica, sua incorporação pela estética é relativamente recente, datando dos romantismos europeus da primeira metade do século XIX e sendo também tributária da discussão sobre as Geisteswissenschaften. A exemplo do que ocorreu com o conceito de gosto, a ideia de interpretação foi reabsorvida em muitas discussões sobre a cultura contemporânea, seja nas diversas modalidades de hermenêutica das obras de arte (p.ex.: Heidegger, Gadamer, Imgarden etc.), seja em concepções com sentido mais amplo como a da psicanálise, de Theodor Adorno ou de Arthur Danto.
No que concerne à noção de crítica lato sensu, constata-se sua consolidação no apogeu da filosofia moderna, com Kant, não podendo-se, por outro lado, desconsiderar também a importante trajetória do conceito de crítica literária, discutido nos círculos culturais europeus desde o século XVII – antes mesmo que a “estética” enquanto disciplina filosófica fosse proposta por Alexander Baumgarten em meados do settecento. Mais uma vez o romantismo de fins do século XVIII e início do XIX desempenhou um papel importante na difusão do conceito de crítica associado às produções artísticas e, a exemplo dos outros dois conceitos que compõem o tema desse congresso, ele chega ao século XXI com energia suficiente para ajudar na compreensão de fenômenos culturais e artísticos tipicamente contemporâneos. Exemplos disso podem ser encontrados nas abordagens estéticas feitas pela Teoria Crítica da Sociedade ou ainda no trabalho de pensadores que aproximam vigorosamente a estética filosófica da crítica de arte (não seria errôneo dizer que a produção de Greenberg chega à filosofia a partir da crítica de arte, enquanto a de Danto chega à crítica de arte a partir da filosofia).
Tendo em vista a trajetória desses conceitos, os quais até hoje preservam sua importância nos debates contemporâneos sobre a estética, o Congresso Internacional “Gosto, interpretação e crítica” pretende abordar alguns dos seus aspectos mais pertinentes, seja em cada um deles separadamente ou nas suas diversas interrelações possíveis. Desse modo, esse congresso se soma à série de eventos organizados, desde 1993, pela Linha de Pesquisa em Estética e Filosofia da Arte, do Programa de Pós-Graduação em Filosofia da UFMG (posteriormente realizados juntamente com o Mestrado em Estética e Filosofia da Arte da UFOP e com a Associação Brasileira de Estética – ABRE): “Morte da arte, hoje” (1993), “Belo, sublime e Kant” (1995), “As luzes da arte” (1997), “Katharsis” (1999), “Mímesis e expressão” (2001), “Theoria Aesthetica” (2003), “A dimensão estética” (2005), “Estéticas do deslocamento” (2007), “Deslocamentos na arte” (2009) e “Imagem, imaginação, Fantasia. Vinte anos sem Vilém Flusser” (2011). Como o foi esse último evento, o próximo também será realizado em promoção conjunta com o Programa de Pós-Graduação em Estética e Filosofia da Arte da UFOP.