Belo Horizonte/MG
Iracema Macedo (UFMG)
Rodrigo Duarte (UFMG)
Verlaine Freitas (UFMG)
Virginia Figueiredo (UFMG)
Apresentação
Embora questões que hoje seriam chamadas “estéticas” sejam quase tão antigas quanto a própria filosofia (vide, por exemplo, o Íon e A República, de Platão), é sintomático o fato de que a Estética, enquanto disciplina filosófica, tenha tido um estabelecimento tão tardio – apenas no século XVIII, com a obra homônima de Alexander Von Baumgarten. Isso provavelmente denota uma espécie de “deslocamento” dos temas estéticos no seio da própria filosofia, tendo havido em muitos instantes da história do pensamento movimentos desses temas do centro em direção à periferia das questões filosóficas consideradas fundamentais.
No entanto, se se toma o termo “estética” no seu sentido mais amplo, o referido “deslocamento” das questões estéticas é apenas aparente, quando não um indício de inconsciência por parte do establishment filosófico, já que, como bem entenderam os empiristas ingleses e Kant, a compreensão dos mecanismos associados à sensibilidade é um pressuposto e uma dimensão inarredável daqueles âmbito que tem quase monopolizado a respeitabilidade teórica no campo da filosofia: a teoria do conhecimento e a epistemologia.
Não é à toa que, apesar de toda a distância que a separa dessas disciplinas filosóficas hegemônicas, a estética tem desempenhado um papel fundamental, ainda que silencioso, no processo de adaptação da sensibilidade humana a um mundo permanentemente transformado pela tecnologia, embora apenas essa última seja reconhecida por seu caráter “progressista”. E aqui o termo “deslocamento” readquire o seu significado quase físico, já que o progresso tecnológico tem se revelado de modo particular na aquisição de crescente velocidade dos processos de interação econômica, social e cultural.
Há ainda um outro “deslocamento” associado à estética que é o fato de que, apesar de a filosofia ter se consolidado naqueles países que foram submetidos a um desenvolvimento capitalista mais acelerado e uniforme, a estética se mostra hoje, paradoxalmente, como uma disciplina filosófica cultivada – e até mesmo florescente – em países com históricos de desenvolvimento muito diferentes dos principais centros econômicos, como a América Latina – em que a maioria dos países se libertou há menos de dois séculos da situação de colônias das primeiras potências capitalistas – e as regiões economicamente menos desenvolvidas da Ásia e da África, com sua cultura antiqüíssima e, em alguns casos, sua experiência colonial mais recente.
Tudo isso motivou a decisão da Linha de Pesquisa “Estética e Filosofia da Arte” do Programa de Pós-Gradução em Filosofia da FAFICH-UFMG de, dando seqüência ao seu projeto de longo prazo de promover eventos de estética de grande porte (1993 – Morte da Arte, Hoje; 1995 – Belo, Sublime e Kant; 1997 – As Luzes da Arte; 1999 – Mímesis e Expressão; 2001 – Kátharsis; 2003 – Theoria Aesthetica; 2005 – Dimensão Estética), propor “Estéticas do deslocamento” como tema do seu último congresso, realizado de 15 a 18/05/2007, na FAFICH-UFMG (Belo Horizonte – Brasil), para o qual foi proposta a abordagem dos seguintes sub-temas: “Arte e Estética na América Latina”, “Arte, Política e Filosofia”, “Indústria Cultural”, “Estética e minorias”, “Espaço e tempo na arte”, “Cultura como resistência”, “Arte e Psicanálise”, “Tradição e Rupturas”, “Moderno e contemporâneo” e “Real e Virtual”.