Entrevista

Entrevista com Rodrigo Duarte, 02.05.2019

Por Miguel Gally (ABRE 2018-2020)

Como surgiu a ideia de realizar o primeiro congresso de estética, em 1993? Desde o início foi um evento internacional? Quem foram os organizadores desse primeiro congresso? Na época, você conhecia a expectativa da criação da Associação de Estética para a América Latina (1994)?

O congresso  “Morte da arte, hoje” (1993) foi o primeiro evento organizado pela linha de pesquisa em Estética e Filosofia da Arte (criada em 1991) e, embora tenha sido idealizado como o primeiro de uma série de eventos internacionais, esbarrou em muitas dificuldades de organização e acabou sendo de âmbito nacional, o que, à época, já foi uma grande conquista. O contato com o pessoal da ABRE do Rio só se deu no final da década de 1990, pela mediação do Gerd Bornheim.

Alguns eventos ocorreram em Belo Horizonte, outros em Ouro Preto, houve alguma estratégia nessa decisão, por exemplo, a de contribuir com o Mestrado em Estética e Filosofia da Arte na UFOP? (Relembre-me, por favor, quais eventos ocorreram em Ouro Preto!).

Os congressos que ocorreram em Ouro Preto (“Deslocamentos na arte”, 2009, e “Imagem, imaginação, fantasia”, 2011) encontraram o então Mestrado de Estética e Filosofia da Arte da UFOP já em funcionamento. Embora isso tenha acontecido principalmente em função de uma antiga colaboração entre os docentes de ambos os PPGs [Programas de Pós-Graduação], acredito que a realização desses eventos em Ouro Preto tenha contribuído para a consolidação do mestrado da UFOP e para a sua visibilidade em nível nacional e internacional.

Você criou em 1993 e participou da organização de todos os congressos de estética? Você gostaria, ainda, de mencionar outros professores/pesquisadores que foram decisivos na manutenção dessa regularidade?

Sim: fui o idealizador dos eventos de 1993 e 1995 e estive na organização de todos eles, sendo que, a partir de 1997, a presença da Virginia Figueiredo e, logo depois, do Verlaine Freitas foi fundamental. Além disso, participaram da organização de vários eventos da série a Imaculada Kangussu, o Romero Freitas, o Douglas Garcia, a Cíntia Vieira da Silva, a Debora Pazetto e a Rachel de Oliveira. Mais recentemente, a Giorgia Cecchinato, ao ser integrada como professora do PPG-Filosofia da UFMG, tem também participado ativamente da organização dos eventos da série.

Você fez parte, em 2004, da organização, na cidade do Rio de Janeiro, do XVI International Congress of Aesthetics ao lado de Nilza de Oliveira, então presidente da ABRE?

Naquela ocasião, substituí o Gerd Bornheim, então recentemente falecido, como presidente de honra do congresso e conferencista principal na sessão de abertura do evento. Participei, entretanto, como uma espécie de assessor acadêmico, sem ter me envolvido com questões mais práticas da organização.

De quem foi e como surgiu a ideia de transferir as atividades da ABRE para Minas?

A iniciativa foi da própria Nilza de Oliveira, que me consultou sobre a possibilidade dessa transferência, por motivos de ordem particular dela. Na época, consultei os colegas e orientandos mais próximos sobre a disponibilidade de eles auxiliarem no início dessa nova etapa e, mediante uma resposta positiva, demos início ao processo de refundação da ABRE em BH, que se efetivou em maio de 2006.

Desde 2002, Imaculada Kangussu, que defendeu mestrado e doutorado sob sua supervisão, e que participou da composição das primeiras diretorias da ABRE em Minas, deu origem aos Colóquios de Filosofia e Ficção, um evento também de estética, criado também em Minas como um claro desdobramento dos seus esforços de promoção e divulgação das pesquisas em estética. Como você avalia a importância dessa série de colóquios para a ABRE?

A ABRE sempre teve um papel importante no sentido de apoiar e incentivar as iniciativas ligadas à estética e à filosofia da arte em qualquer parte do país. E essa série dos eventos FiFi sempre contou com o nosso apoio e entusiasmo. O ideal é mesmo isso: a ABRE tendo um papel de indutora e incentivadora de novos e importantes projetos na área da estética filosófica no Brasil.

Uma das conquistas mais importantes encabeçadas por você para a área de estética foi a inclusão, pelo CNPq, da subdisciplina “Estética” na sua estruturação de disciplinas. Quanto tempo durou para que houvesse esse reconhecimento e quando ele aconteceu? A que você atribui tanta resistência para essa inclusão? Você acredita que a ABRE, como associação, contribuiu, de algum modo, para essa vitória?

Quando a ABRE foi refundada em Belo Horizonte, em 2006, a inclusão da estética na “árvore do conhecimento” do CNPq foi considerada uma prioridade. Mas eu nunca podia imaginar que seria tão difícil, pois esbarrou numa enorme resistência dentro dessa instituição, por razões que eu, sinceramente, ignoro. E, mesmo eu tendo sido membro do CA [Comitês de Assessoramento] de filosofia do CNPq por três anos, isso ainda não resolveu a questão. Durante os oito anos em que eu fui presidente da ABRE, me empenhei nisso e também depois dos meus quatro mandatos consecutivos na associação. Só em 2016, depois de muita – e continuada – insistência, foi que o CNPq finalmente incluiu a estética na sua árvore.

Você tem alguma memória de algum episódio histórico/pitoresco/curioso ao longo do seu envolvimento com a promoção da área estética (antes da e com a ABRE) que queira dividir conosco?

Uma coisa que faz parte do folclore da ABRE, desde o seu início até o presente, é a recorrência com que ela é confundida com uma associação de estética facial ou corporal, tendo eu recebido correspondências, telefonemas e contatos nas redes sociais para participar de feiras de wellness, eventos de cirurgia plástica ou de academias de fitness, etc. No grupo que administro no Facebook, chamado “Estetas”, eu tive que introduzir umas perguntas aos candidatos a membros, no sentido de eles sinalizarem se sabem a diferença entre estética filosófica e estética facial/corporal. Isso para evitar que o grupo se transforme numa feira de comercialização de produtos e serviços dessa outra estética, que não é a nossa.